Manuel Rui Alves Monteiro, conhecido simplesmente como Manuel Rui, nasceu no Huambo (então Nova Lisboa), em 4 de Novembro de 1941. É um dos mais notáveis intelectuais e escritores angolanos, cuja vida e obra acompanham de perto a história política, social e cultural do país.
Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, em Portugal, destacou-se no meio académico e literário desde cedo. Em Coimbra, foi advogado, membro fundador do Centro de Estudos Jurídicos e integrou o Centro de Estudos Literários da Associação Académica de Coimbra. Foi também redactor da revista Vértice, coordenador do suplemento literário Sintoma do Jornal do Centro e cofundador das edições Mar Além. Ali conviveu com intelectuais e activistas angolanos que marcaram a luta de libertação, entre os quais Agostinho Neto.
Com o regresso a Angola, em 1974, Manuel Rui assumiu funções políticas relevantes. Foi Ministro da Informação do Governo de Transição, Reitor da Universidade do Huambo e primeiro representante de Angola junto da Organização da Unidade Africana e das Nações Unidas.
É igualmente reconhecido como autor da letra do Hino Nacional de Angola – “Angola Avante”, musicado por Rui Mingas. Também escreveu outros hinos, como o da Alfabetização e o da Agricultura, além de letras em parceria com músicos angolanos e internacionais, como Rui Mingas, Filipe Mukenga, André Mingas, Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo, Martinho da Vila e Cláudio Jorge.
Na literatura, a sua produção é vasta e diversificada, abrangendo poesia, ficção, crónica, ensaio e literatura infantil. Foi o primeiro escritor a publicar em Angola, após a independência, com os livros 11 Poemas em Novembro (1976, poesia) e Sim Camarada (1977, ficção). Obras como Regresso Adiado (1973), Memória de Mar (1980) e Quem Me Dera Ser Onda (1980) consolidaram a sua posição como referência incontornável das letras angolanas. Quem Me Dera Ser Onda, em particular, tornou-se um marco, adaptado para teatro e televisão, estudado em escolas no Brasil, Suécia e Angola, além de ter inspirado a criação de um concurso literário juvenil que leva o seu nome.
Publicou ainda títulos como Crónica de um Mujimbo (1989), Um Morto & os Vivos (1993), Rioseco (1997), Um Anel na Areia (2002), O Manequim e o Piano (2005) e O Semba da Nova Ortografia (2010). A sua poesia inclui Poesia sem Notícias (1967), A Onda (1973), Agricultura (1978) e Ombela (2007, edição bilingue português-umbundu). Parte da sua obra está traduzida em várias línguas, entre as quais francês, inglês, espanhol, alemão, sueco, árabe, hebraico e mandarim.
Para além da escrita, Manuel Rui participou no cinema, declamando poemas em filmes de António Ole (O Caminho das Estrelas) e colaborando com Orlando Fortunato nos filmes Memória de um Dia, Kianda e Combóio da Kanhoca.
Fundador da União dos Escritores Angolanos, da União dos Artistas e Compositores Angolanos e da Sociedade de Autores Angolanos, Manuel Rui é considerado uma voz central na consolidação da literatura e da identidade cultural angolana. Em 2024, a sua cidade natal prestou-lhe homenagem com a inauguração do Centro Cultural Manuel Rui, o maior equipamento cultural de Angola.
Manuel Rui recebeu condecoração destacada: foi o primeiro cidadão homenageado com a Medalha Comemorativa dos 50 anos da Independência Nacional, na Classe Independência, como reconhecimento do seu contributo indelével à cultura, literatura e identidade angolana.
As suas obras mais recentes incluem títulos publicados durante as celebrações dos 50 anos da independência, como Onze Poemas em Novembro (Ano 10), Mulher & Marido e O Kaputo Camionista, que confirmam que, mesmo aos seus 80+ anos, Manuel Rui continua activo e relevante.
Mais do que escritor, Manuel Rui é um símbolo de resistência, criatividade e identidade nacional, cuja obra continua a inspirar novas gerações de autores e leitores em Angola e no mundo.
Fontes:
Câmara Municipal da Póvoa de Varzim – Correntes d’Escritas (2011)
Voz da América – Português (2014)
Lusofonia Poética
Centro Cultural Manuel Rui (Huambo, 2025)